:: agarrar(t)

fevereiro 25, 2015



agarrar deve ser a arte menos bem ensinada, mas tão importante para tudo na vida. a forma como se agarra um trabalho, uma profissão, uma vontade. ou a forma como se agarra um amor, um corpo, aquela pessoa. porque pode-se querer, gostar, lutar, mas saber agarrar algo, ou alguém, requer muito treino, muita entrega e sabedoria. agarrar é um misto de força e cuidado. de posse e entrega. por isso, gosto de quem me agarra com força, homem ou mulher: um aperto de mão forte, um abraço que prende, um beijo que arrepia. por isso, gosto de segurar com força, mostrar a vontade, a necessidade, a tesão, mas ao mesmo tempo (e aqui, a arte), saber parar no ponto certo onde se consegue misturar na força o cuidado, o carinho, e a doçura - salgada, sempre.

o tango, por exemplo, é a arte pura de agarrar quando se dança. a forma como uma mão diz o caminho, como um pé ordena os passos, sempre o homem, a comandar, a coordenar, mas a deixar a mulher brilhar. a dizer o caminho, mas a deixar-se ir atrás. cavalheirismo mais puro, esse cuidado de decidir, mas deixar ser ela a avançar. como quando se abre uma porta e apenas se toca com a mão nas costas, para ela passar primeiro, como que a indicar, discretamente, o caminho. mas a deixar-lhe a opção de ela o querer seguir.. mas voltemos à música, porque agarrar tem de ter ritmo. tem de ter o tempo certo. há momentos para se agarrar com força e outros para quase só tocar. momentos que se agarra, parados, tipo rocha, como quando precisas de chorar no meu pescoço, escondida do meu olhar. e momentos para se agarrar em dança louca, como quando te puxo pela mão no meio da rua, ou quando te agarro no meio da cozinha, beijo inesperado, suspiro no pescoço, e te solto logo de seguida - mas aí, só sei que te agarrei mesmo, depois de te soltar: quando ficas com aquele olhar parado em mim, quase sorriso de lado..

arte maior, saber agarrar os cabelos de uma mulher. a mão presa no pescoço a subir pela cabeça, lentamente, mas de pulso forte, entre força e vontade, mas sempre carinho. fica-se ali na tensão, entre te quereres soltar, e gostares de sentir o aperto de quem te quer. mente e corpo em luta. coração e cérebro a discutirem-se entre a liberdade e a entrega. entre a quase dor e o quase prazer. maravilhoso, como o corpo fala ali mais que mil palavras. não há teorias, razões, ou perfis que encaixem melhor, que testem melhor uma relação: é o corpo. é a forma como se move, como se toca, como se entrega. e, se a forma como agarra, diz muito de um homem, diz mais de uma mulher a forma como se deixa agarrar. a forma como se deixa prender, como se entrega, como se confia aos braços do seu homem. como diz, sem falar: sou tua.

6 comments

  1. ora, gostava de dizer alguma coisa; botar faladura como faço quase sempre, né?

    mas, ainda não recuperei do último parágrafo. prometo voltar mais tarde :-)

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  2. Raquel25.2.15

    Definitivamente sou uma admiradora expectante e ansiosa. Obrigada.

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  3. ora, agora que já me recompus... acho!
    passaram-se quase oito horas, depois de um xanax e de um copo de vinho tinto, já posso dizer qualquer coisinha. o texto? lê-se :-) :-) :-) :-)

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  4. Anónimo1.3.15

    Já estava ansiosa para que voltasse a escrever... Tem realmente textos muito bons. Bom trabalho e espero que não fique tanto tempo ausente :)

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  5. Anónimo1.3.15

    Tem página no facebook? Se sim pode indicar o nome? Obrigada

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  6. E sorte de quem tem do seu lado quem escreve e toca assim. Parabéns, a sua escrita é incomparável, quase que a sinto na ponta dos dedos.

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